Palmas para o Esquilo - pré-venda
Lançamento de David Soares e Pedro Serpa encerra um ciclo de espera de mais de vinte anos
“Usam-se palmas para aplaudir.
Para celebrar. Para aprovar.
Mas as palmas representam o martírio.
O sofrimento.”
David Soares, Palmas Para o Esquilo
Quando Palmas Para o Esquilo finalmente chegar às mãos dos leitores brasileiros no segundo semestre de 2024, uma espera de mais de vinte anos terá se encerrado em nosso mercado editorial. Em fevereiro de 2003, numa entrevista concedida a Hugo Silva, para o site Omelete, questionado sobre a possibilidade de ser publicado no Brasil, David Soares respondeu: “Provavelmente, mais cedo do que pensas: tenho umas idéias que quero por em prática num futuro próximo (...).” Levou vinte anos, mas o futuro chegou!
Se, na época, David já era bem conhecido entre o público consumidor de quadrinhos português, com obras como Mr. Burroughs, A Última Grande Sala de Cinema e Sammahel, além dos livros de contos Mostra-me a Tua Espinha e Trevas Fantásticas, passado tanto tempo, esse reconhecimento cresceu, sendo ele hoje considerado o autor português mais importante da literatura fantástica. Nesse meio tempo, escreveu livros como A Conspiração dos Antepassados, sobre o encontro do poeta Fernando Pessoa com o mago Aleister Crowley, e Lisboa Triunfante, uma historiografia mágica da capital portuguesa, além de diversos quadrinhos e até discos de spoken word. Mas, ainda assim, com exceção de uma introdução para O Livro da Lei, de Aleister Crowley, lançado pela editora Chave, permanecia inédito em nossas paragens até agora.
Uma das histórias favoritas do autor, Palmas Para o Esquilo é, muito provavelmente, a publicação ideal para apresentar sua obra ao público brasileiro. Primeiro porque, com ela, não temos ideia de onde estamos nos enfiando. Segundo David, a história surgiu numa cafeteria, onde o começo e o final da história brotaram em sua mente, com o início enigmático, onde somos apresentados a alguns rostos que se tornarão familiares ao longo da trama, numa trama nunca afasta os leitores, mas, muito pelo contrário, se esforça para aproximá-los.
Sobre isso, diz o autor: “Tive a surpresa de me surgir, já formada, a imagem final do livro, com a árvore seca, um grupo de pessoas à volta de um corpo deitado no chão e o esquilo ascendendo ao empíreo, saltando de um dos ramos. A partir daí, desenovelou-se, gradualmente, toda a narrativa, que, compreendi, se passava num hospital psiquiátrico.”
Palmas para o Esquilo é uma obra sobre a distância entre a imaginação e a loucura, e como a primeira pode se tornar a segunda. Ambientado em uma instituição para doentes mentais, a HQ recusa os lugares comuns do gênero, apresentando os loucos e seus cuidadores a partir de um prisma positivo, abordando a loucura como uma alegoria da condição humana. A respeito disso, o autor faz questão de deixar claro: “O hospital psiquiátrico de Palmas Para o Esquilo é isso mesmo: um hospital. Os pacientes estão lá para serem curados, para serem apoiados. Não me interessou imaginar um asilo no molde em que os asilos costumam surgir em muitas ficções contemporâneas, com os loucos a serem escarnecidos ou até brutalizados, adstringidos por camisas de força, esse tipo de referências.” O asilo é um mundo, mas a loucura é uma antilinguagem, porque não permite a comunicação. Isolados dentro das suas próprias mentes, os personagens desta história contam com apenas com a imaginação para libertar a alma.
Duas coisas chamam imediata atenção na HQ: sua linguagem, repleta de neologismos e evocações num tom hipnótico e desafiador, e a arte da história, num estilo linha-clara, que não prepara o leitor para o que vai enfrentar.
Como havia acabado de trabalhar com Pedro Serpa em O Pequeno Deus Cego, com o qual sagrou-se vencedor na categoria de melhor roteirista do Prêmio Nacional de Banda Desenhada, além de ter angariado indicações para Melhor Álbum e Desenho, foi natural que quisesse repetir a parceria.
“Conheci o Pedro Serpa quando o Mário Freitas, editor da Kingpin Books e legendador e designer de Palmas Para o Esquilo, sugeriu que fosse ele o desenhador de O Pequeno Deus Cego. Assim que vi as primeiras pranchas desse livro a serem desenhadas pelo Pedro, percebi logo que tinha nele uma forma de alter-ego artístico, porque o seu grafismo tem uma característica em comum com a minha escrita e que também é partilhada com os estilos de outros artistas com quem mais gostei de colaborar: a recusa do naturalismo e a busca da estilização. O grafismo do Pedro apresenta-se de um modo que, parece-me, não dá espaço à ambiguidade: está-se, é evidente, no campo da estilização, ou seja, da arte pura, e isso é o que me interessa. Em suma, é um desenho compreensível, mas não é realista, é onírico, mas também é subversivo. De maneira que pensei imediatamente no Pedro para desenhar Palmas Para o Esquilo e não imagino o livro desenhado por outro artista ou sequer de outra forma.”
“Descobri a linha clara já muito tarde como leitor/desenhador”, diz o ilustrador Pedro Serpa, sobre o processo de sua própria evolução artística. “Depois de anos a consumir HQ de super heróis americanos, foi como uma onda que limpou o excesso e deixou apenas o essencial. Fui-me apaixonando pela candura do traço de várias autoras independentes como Lucy Knisley e Rutu Modan, que abordam a linha clara de forma própria e muito diferente do Hérge ou E.P. Jacobs, e o meu estilo seguiu por essa via e caminhou lado-a-lado com o que queria fazer e o que fazia sentido para a história.”
Sobre o período trabalhando na obra, Pedro diz que ainda hoje vê o álbum com muito orgulho: “Recordo das dificuldades e mudanças profundas na vida pessoal, na relação de amor/ódio com o meu desenho mas continuo a ver o Palmas para o Esquilo como o ponto mais alto do percurso como autor de quadrinhos. Consigo pôr todas as inseguranças de parte e sentir orgulho nesta obra e na colaboração com o David, que acreditou em mim para dar linha e cor a uma história que lhe era tão pessoal.”
A Mambembe Livros tem orgulho de trazer esse pequeno novo clássico dos quadrinhos mundiais para o Brasil, na esperança de que cresça o interesse pela obra de autores que, inexplicavelmente, ainda se encontravam inéditos por aqui. O livro está em pré-venda no site da editora, com desconto de 12% na pré-venda. São 60 páginas coloridas por R$ 70.
E fiquem atentos, muito em breve temos mais novidades!